quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A BOCA-DE-FUMO Por Erick Guerra, O Caçador

 



    O filho de Dona Maria sempre foi um menino arteiro, que ela passou a mão na cabeça... Depois que cresceu um tantinho, começou a fumar umas coisas... Com pouco, o moleque estava vendendo na casa dela!


    Eita! Começou o desfile de malassombrados na vizinhança. Todos eles indo buscar uma pedrinha, um baseado, um pozinho meio misturado. A coisa cresceu depressa, e o menino de Dona Maria comprou logo umas roupas, cordão de ouro, uma cinquentinha e botou um revólver na cintura.


    "Estudantes", menininhas, músicos também iam comprar na Boca da Vizinhança. Todos eles gente de bem, só "fazendo mal a si mesmo" com "uma erva natural", um pozinho "de leve" ou um "mesclado" uma vez perdida... Todos "meio contra o sistema" e as "leis erradas", deixando seu CAPITAL INVESTIDO NO TRÁFICO e trazendo para a vizinhança o crescimento da Empresa do Crime.


   Para sustentar o vício, uns drogados começaram a arrombar casas. Depois, começaram os assaltos. Gente armada na rua, lei do silêncio, leis do tráfico - outros caras mandando, além do filho de Dona Maria.


   Os universitários continuaram vindo comprar nos carrinhos das mamães, mesmo depois que começou o mata-mata no bairro. Nego que devia, nego que deu mole, nego que jogou duro, nego que o chumbo comeu... A Sociologia dos Marginais e o "Sistema SEMPRE Errado" explicam. O Poder da Grana dos filhinhos de Papai drogados, também...


    E a Polícia? Disseram que sabia, mas não fez nada! Um dia, foram fazer, mas quando chegaram perto, não viram. Também ninguém ajudou, que ninguém vai se meter, né? Outra vez, pegaram um "músico", que corrompeu os policiais para não ser preso. Depois, ficou chamando eles de "hipócritas" ao som de reggae. Com o dinheiro desse "Guerreiro Regueiro", a Galera da Boca comprou munição de pistola e atacou outra Galera Concorrente na Rua de Baixo. Mataram dois e começaram uma guerra.
    No dia que mataram o filho de Dona Maria, foi pipoqueira de bala na rua! Seu Chico, que nem tinha nada haver, levou um tiro na barriga. Mas, nessa altura, a vizinhança já estava acostumada com sons de tiros na madrugada, a se trancar em casa, aos caras nas esquinas fumando maconha e ao desfile frequente dos financiadores do Tráfico nos carros de Papai e Mamãe.


    Uma vez, encontrei um Rastafari num Bar. Ele disse que era da Paz e fumava maconha para elevar a consciência. Lembrei dos miolos do Filho de Dona Maria escorrendo para fora da cabeça, que os caras estouraram com um tiro de espingarda calibre .12. A consciência do Rasta não pesou por isso, nem a BOCA-DE-FUMO acabou... Outra facção assumiu, as regras mudaram, e a vizinhança passou a ter mais medo quando mataram uns três para dar exemplo da Justiça deles. A Paz da Música Reggae sempre esteve nas cores das roupas dos noiados, na fumaça das drogas vendidas por menores de idade armados e nas idéias de quem banca a Força desses criminosos que passaram a dominar toda a vizinhança, toda a cidade, todo o Estado, todo o País. A PAZ só não está na realidade. Os viciados são burros, ou se fingem: a cada baforada de um drogado, o conflito se acende. As cores da Jamaica, nessa guerra, são as cores do crime e do vício.


    Dona Maria morreu esmolando, expulsa que foi de casa, quando o monstro que ela criou foi assassinado. Tudo bem, todo mundo sabe que tem um final assim pra quem anda errado. Ninguém pode julgar, né? Mas, graças à má criação  de Dona Maria, o Bairro inteiro ficou cheio de coisas ruins.


   E a Polícia, não faz nada? Uns caras fizeram uma Operação, uma vez. Prenderam dois traficantes. A justiça soltou. A BOCA-DE-FUMO continuou.

    Aí, um carinha com uma camisa de banda de Rock me disse certa vez: "Não é um baseado que vai dizer qual é meu caráter". Pensei comigo: "Claro que não". A droga só vai fazer criar Cracolândias, destruir famílias, corromper crianças, destroçar vidas, aterrorizar os dias de quem quer morar em paz onde o crime viceja... Como poderíamos medir o caráter de um viciado "esclarecido" e "gente de bem", que se alheia de tudo isso quando acende uma estaca de vício para desorientar os próprios pensamentos? "Mas não vamos ser caretas: uma pessoa que só se droga de vez em quando não pode ser culpada de tudo! Não é uma festinha que vai acabar com o mundo!" Será? Se há MERCADO para esses drogados eventuais, é porque o negócio não para. A grana que entra, faz a firma ficar mais poderosa. Daí corrompe mais coisas, mata mais gente e influencia mais o mundo com a cultura do submundo das drogas e dos viciados vagabundos.


    Hoje, a BOCA-DE-FUMO continua, com seu mau-hálito de desgraças, numa rua perto de você... Hei! Não é na sua?



              Erick, O Caçador

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