sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O CASO DO ESPÍRITO SANTO E SUAS IMPLICAÇÕES NACIONAIS

Por Erick, O Caçador




    O Brasil todo tem acompanhado a situação do movimento de famílias de policiais no Espírito Santo, que resultou na paralisação da atividade policial no Estado e concomitante caos social. Tudo começou com 10 esposas de PMs e agora virou um fato portador de futuro para a Segurança Pública Nacional.




    O movimento dos familiares policiais originalmente reinvindicava melhor estrutura de trabalho, 10% de aumento salarial com reposição da inflação, mais a inclusão de direitos, tais como adicional de periculosidade e de trabalho noturno, negados ( incrivelmente) pelo Estado a seus servidores policiais. Ao contrário do "fogo na palha" que é comum nos movimentos pacíficos ( repletos de falastrões comodistas), o protesto das esposas em frente a um destacamento de Polícia Militar não arrefeceu com o passar do tempo, impedindo os militares de saírem do Quartel e, ao mesmo tempo, atraindo adesões de outras pessoas indignadas com o descaso com a Segurança Pública e a Classe Policial. A Polícia Civil, após alguns dias, aderiu, declarando - esta sim - greve.




    Os Policiais Militares, que nunca receberam ordens para descer o sarrafo em baderneiros e terroristas do porte de um MST da vida, tampouco usaram de violência contra seus familiares em protesto pelo direito, deles próprios, de receber salário digno e melhor condição de trabalho. É necessário explicar que o estatuto arcaico que rege os Policiais Militares proíbe-os de ter liberdade de expressão e Direito de Greve, como os demais cidadãos brasileiros. Daí a iniciativa partir de seus familiares e, não, dos Policiais Militares! Dada essa relação de respeito entre manifestantes e policiais, o Governo do Estado partiu para uma linha repressiva que o Brasil inteiro aplaudiria, caso tomada contra as Facções Criminosas em franca guerra civil, inclusive no Espírito Santo... Mas, uma vez que foram tomadas contra os agentes que sempre se sacrificaram para que a sociedade sobrevivesse ao Império Crescente do Crime, transformaram-se num dos maiores escândalos dessa década, tornando o movimento dessas pessoas um símbolo de luta pela justa causa social da Segurança Pública.






    Primeiro, um Desembargador declarou logo o protesto ilegal, pois ameaçava a Segurança Pública do Estado. Fica a responder onde estava o mesmo Judiciário, na fiscalização da situação de aumento drástico da criminalidade, descaso da gestão com a Segurança Pública e sucateamento do serviço público de polícia. Será que isso não ameaçava a Segurança do Estado? A explicação comentada à boca miúda é a de que a violência criminal, ao atingir a população, não sensibiliza o Judiciário tanto quanto uma crise política que afete as oligarquias ( famílias de políticos) dominantes em seu Estado. Faz sentido, pois a promoção de um Juiz para Desembargador, se faz através de indicação política ( discricionária do Governador) e, naturalmente, crias laços de "gratidão", para dizer o mínimo. Seria este o caso? Difícil dizer... Mas, realmente, os servidores públicos de maneira geral, sempre estão sendo mantidos "em seu lugar" de achatamento salarial e trabalho em condições de crescente sucateamento, por essa bem conhecida aliança entre Governadores e Desembargadores... Já os pacientes hospitalares da Rede Pública, as crianças em idade escolar passando necessidades e a população vítima de criminosos não contam com a atenção dessa aliança para solução de suas demandas. O MST, enquanto movimento, nunca recebeu esse tipo de sanção em suas inúmeras ações criminosas no Espírito Santo. Que se pode pensar dessa Justiça, da qual se suspeita estar a serviço do Executivo, mesmo quando este descumpre as Leis? Não é o caso do estado do Espírito Santo, talvez, mas em diversos Estados do Brasil, o próprio Estado é um dos maiores descumpridores das leis - sendo a Classe Policial particularmente sensível a isso, justamente por trabalhar na fiscalização do cumprimento estrito dessas mesmas leis!




    Depois, o Secretário de Segurança Estadual e o próprio Governador do Espírito Santo passaram a achincalhar os Policiais e suas famílias, com dizeres do tipo "farsa grotesca" dos policiais e suas famílias, "chantagem com a segurança da população", "cárcere privado da população" e etc, passando a criminalizar a polícia de forma aberta: 703 PMs já estão sendo processados pelo crime de Revolta (!) e, como declarou o Governador Fernando Hartung ( PMDB), serão investigados supostos envolvimento de Policiais em crimes, tais como homicídios (!) e outros (!)... Inclusive, segundo essas autoridades, as esposas dos militares também serão identificadas e punidas! O fato é que as associações de PMs receberam pena de multa pesada diária por cada dia de paralisação. Seria tão revolucionário que as famílias de membros do PCC ou do CV recebessem sanções da Justiça, quando seus entes queridos destruíssem cadeias e esquartejassem seus companheiros de cela! A lógica seria a mesma: imputar punibilidade por laços de família. Quanto às reivindicações da Famílias Policiais, diz o Governo não ter dinheiro para atender o pleito. O caso é que o mesmo Governo liberou mais de meio milhão de reais para as Escolas de Samba capixabas no carnaval próximo, gasta cerca de 20 milhões em publicidade e concedeu 4 bilhões de reais em isenções fiscais ( perdão de dívidas de impostos) para grandes empresas - segundo as manifestantes. O Judiciário tem ciência disso?




    Militares do Exército e da Força Nacional foram alocados aos milhares para o ES, a um custo muito superior, de todas as maneiras, do que simplesmente conceder ao Policiais o devido tratamento digno. Com encenação digna de filmes da Marvel, as autoridades se apressaram em afirmar que as estatísticas criminais despencaram... Mas sem apresentar os números! O fato é que a presença dos militares federais ( inclusive a Força Nacional) é quase que cenográfica - um tipo de Operação Presença. Após cerca de 20 dias de atuação no RN ( Operação Potiguar II), por exemplo, ao custo de oito milhões e oitocentos mil reais (!) para menos de 1.500 militares federais empregados, não tivemos notícias de prisões, apreensões de armas e drogas ou qualquer outra contribuição estatística criminal em número que justificasse serem eles chamados de " A Solução do Problema". No Espírito Santo será diferente, além de mais caro? A mitologia de exaltação do emprego das Forças Armadas para "varrer para baixo do tapete" os problemas de violência endêmica ou "crises" causadas pela sucessivas gestões estaduais incompetentes está nos levando, na prática, a uma Intervenção Militar. Notícias dão conta de que o Exército já está com 30.000 homens de sobreaviso para ocupar as ruas, na provável hipótese do colapso total da Segurança Pública nos |Estados. Para os que querem a Intervenção Militar, digo: já está em andamento. Se essa Intervenção vai se tornar um Governo Militar, aí é outra história...




    O Presidente Michel Temer, que se apressou em mandar muito dinheiro e seu sentido pedido de perdão aos familiares de estupradores, assassinos e ladrões, por conta dos 55 presidiários mortos de Manaus, não liberou um centavo sequer para a estrutura de segurança do ES, tampouco falou em indenizar as famílias de centenas de pessoas assassinada nas ruas do Estado, incluindo policiais. Sobre os Policiais capixabas e suas famílias, disse que o movimento é "inaceitável", sugerindo que a reinvindicação está "fazendo o povo de refém". Estranho, tanta empatia do Senhor Presidente da República com a "família presidiária" e tão pouca com a Família Policial. Que acham? A figura do bandido com refém é a tarja da esposa ou mãe do policial capixaba, ficando o papel de ser humano sofredor e digno de pena para as esposas e mães dos presidiários de facções criminosas? Como podemos compreender tal posicionamento?



    As Redes de Televisão, notadamente a maior do país, dão apoio mal disfarçado ao discurso governamental, colocando os Policiais e suas famílias como culpados pelo prejuízo no comércio, surto de criminalidade, medo das pessoas, etc. Fica a pergunta: por que as mesmas matérias não mostram a realidade de ser filho ou mãe de policial no mesmo Estado? Estariam os Policiais e seus familiares com "salvo-conduto" em tal situação? Será que a Televisão vai mostrar os bastidores das mães e esposas acampadas em frente aos quartéis, suas necessidades e aspirações, da mesma forma que mostrou as condições de vida numa Facção Criminosa de presídio? Vocês já viram na TV o choro de uma mãe de PM aflita? Será que esse tipo de mãe não chora? O grande jornalismo brasileiro, em geral, está se mostrando do jeito há muito denunciado e suspeitado: parcial e comprometido com o Governo. A explicação seria a bolada de centenas de milhões de reais em "publicidade" pagas pelo Governo a essas empresas. Será que isso faz diferença na hora de noticiar os fatos?




    Por fim, notícias oriundas de várias partes do País falam de ampliação desse protesto pela valorização do policial e da melhoria da Segurança Pública. Outras polícias estaduais estão em franca trilha de adesão, pelo que se vê. Ao tentar de solucionar a questão local, as atitudes duras e repressoras das autoridades capixabas estão levando o Brasil a atravessar um limiar. São os fatos.



      O Movimento da Família Policial Capixaba terminou, mas seu exemplo denota um modelo da luta pela maior causa social da atualidade brasileira: a Segurança Pública.



 
Erick Guerra, O Caçador

Nenhum comentário:

Postar um comentário