Na busca por proteção dos muitos perigos da vida bandida, sempre se falou que alguns criminosos supostamente possuíam pactos com forças espirituais ocultas e que usariam amuletos com encantamentos de proteção e sorte contra inimigos. Das estrelas de couro nos chapéus dos cangaceiros ( na verdade, inspiradas no Selo-de-Salomão e na antiga estrela de oito pontas de Ishtar) até os pactos com entidades nos terreiros de macumba, o rol dos artifícios alegados para ter vantagem sobre a Polícia e outros adversários é variado. Trataremos aqui do sobrenatural usado como recurso pelo crime.
Há longa tradição, no Sertão mais recuado, do uso de rezas-bravas pra livramento de acidentes como picadas de cobra ou cura de doenças. O povo mais antigo também fala de orações perversas, de uso cangaceiro, como a famosa "Oração da Cabra Preta" que daria o "envultamento" (invisibilidade) ao rezador e, noutras versões, transformaria o recitante num toco de pau ou animal. Daí, inclusive, derivaria a linha da "Reza para virar Lobisomem".
A mística sertaneja alude a rezas fortes para fechar o corpo, livrando de "ferro-frio" (facadas) e de balas, dando o caborge de "invulnerabilidade", durante o tempo em que o caborjudo não tocasse em mulher - o que lhe tiraria tais poderes.
Virgolino Ferreira, o Lampião, tinha o hábito de oficiar certo rito "engrimanço" com seu bando, semelhado a uma missa herege, fato bem registrado nas suas únicas imagens em filme, feitas por Benjamin Abraham. Quando da morte Lampião no combate de Angico/AL (1938), foi encontrado um breviário nos seus bornais que, entre outras fórmulas, continha a "Oração da Pedra Cristalina". O próprio vestuário e equipamento dos cangaceiros do bando de Lampião era repleto de símbolos místicos tais como estrelas de oito pontas, flores-de-lis e cruzes de malta, entremeados de moedas e motivos florais.
Há um relato de que Corisco, chefe de subgrupo subordinado a Lampião, revoltado no momento da morte de sua segunda filha, teria rezado em alta voz o sombrio "Credo ao Contrário", verdadeiro aboio de chamar o Cão...
Nas zonas litorâneas, onde o espiritismo afro-ameríndio se manifesta nos terreiros de Candomblé e da Jurema Sagrada, não foram poucos os criminosos que fizeram pactos com espíritos que, alegadamente, foram malandros ou marginais em sua vida terrena. É o caso de entidades como Zé Pelintra ou os diversos tipos Pombas-Giras e Exus. A proteção desse "padrinhos", conjugada com o uso de "patuás" e "guias" (espécie de amuletos supostamente imantados com poder sobrenatural) daria ao "afilhado" o "pulo do gato" em cima de seus inimigos. A paga pela proteção seria feita com sangue do sacrifício de animais, bebidas e charutos ou cigarros.
Já no Caldeirão do Diabo (antigo Presídio João Chaves, Natal/RN), os presos comentavam sobre rituais nefandos, feitos na cela de Naldinho do Mereto, Demir e Paulo Queixada ( terrores de Natal nos anos 90). O "Trio Ternura", segundo um ex-detento, praticava magia negra e sexo grupal entre si, sendo eles bastante temidos também por essas "esquisitices". Nessa época, muitos no submundo se valeram dos feitiços encontrados no Grimório denominado "Livro de São Cipriano".
É comum, nos membros das Facções Criminosas Prisionais da atualidade, tatuagens com motivos macabros, representando o Diabo ou seres infernais. Se isso lhes concede algum tipo de "aliança sobrenatural" (mesmo que inconsciente) ou se é apenas pintura corporal como expressão de arte degenerada, há controvérsias.
Coincidência ou não, todos os bandidos nominalmente citados aqui tiveram mortes horríveis, depois de uma vida de danação infeliz... Maior do que Deus, ninguém!
Erick Guerra, O Caçador
É comum, nos membros das Facções Criminosas Prisionais da atualidade, tatuagens com motivos macabros, representando o Diabo ou seres infernais. Se isso lhes concede algum tipo de "aliança sobrenatural" (mesmo que inconsciente) ou se é apenas pintura corporal como expressão de arte degenerada, há controvérsias.
Coincidência ou não, todos os bandidos nominalmente citados aqui tiveram mortes horríveis, depois de uma vida de danação infeliz... Maior do que Deus, ninguém!
Erick Guerra, O Caçador